Câncer colorretal - novo tratamento promissor traz esperança contra o câncer
O câncer colorretal são tumores que acometem segmentos do intestino, como o intestino grosso (cólon) e o reto, sendo na maioria das vezes uma doença tratável e curável se diagnosticada precocemente.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), foram registrados mais de 40 mil casos de câncer colorretal no ano de 2020, tendo uma distribuição muito semelhante em termos percentuais entre homens e mulheres.
No entanto, a doença em estágio avançado possui tratamento desafiador, envolvendo mais de uma abordagem terapêutica. Dessa forma, o desenvolvimento de novas terapias que sejam mais eficazes nesses cenários é fundamental para melhorar a reposta do paciente frente ao tratamento.
Avanços científicos no tratamento do câncer colorretal
Em um recente estudo publicado na renomada revista científica The New England Journal of Medicine, cientistas demonstraram de forma surpreendente o potencial terapêutico de um medicamento para o tratamento de pacientes com câncer colorretal localmente avançado (adenocarcinomas).
Como mencionado anteriormente, para esse tipo de câncer é utilizada uma estratégia terapêutica que engloba normalmente quimioterapia, radioterapia e ressecção cirúrgica no reto. O grande problema é que, apesar de apresentar certa eficiência terapêutica, esse tipo de abordagem implica em quadros com complicações acentuadas e efeitos tóxicos ao organismo, que podem incluir disfunção intestinal, urinária, além de afetar a qualidade de vida dos pacientes.
A ressecção do reto (retirada cirúrgica) altera permanentemente o estilo de vida da pessoa, sendo necessária muitas vezes a utilização de bolsas de colostomia. Assim, terapias que evitem a necessidade de intervenção cirúrgica e preservem o órgão, estão ganhando cada vez mais destaque.
Deficiência no sistema de reparo de incompatibilidade
Uma característica marcante de 5 a 10% dos adenocarcinomas retais é a deficiência no reparo de incompatibilidade, acarretando uma má resposta do tumor ao tratamento padrão quimioterápico.
Para entendermos melhor o significado disso, é necessário compreendermos o que é o sistema de reparo de incompatibilidade. Esse sistema é composto por proteínas que estão presentes nas células, cujas funções estão associadas à correção de eventuais erros que possam ocorrer no DNA. Se alguma dessas proteínas não desempenhar seu papel corretamente, erros genéticos podem ocorrer, o que gera uma maior chance de desenvolvimento de um tumor, como no câncer colorretal.
No entanto, estudos científicos prévios mostraram que o câncer colorretal é responsivo a terapias que envolvam o bloqueio da proteína PD1. Essa proteína atua como um interruptor que impede o ataque das células de defesa do organismo ao tumor. As células cancerosas apresentam aumento desse tipo de proteína em sua superfície, permitindo que as mesmas escapem das defesas imunológicas do nosso corpo. Dessa forma, foram desenvolvidos medicamentos baseados em anticorpos que se ligam e bloqueiam a proteína PD1, tornando as células do tumor sensíveis ao sistema imune.
Devido a estas características tumorais do câncer colorretal avançado, os cientistas resolveram investigar se a utilização de um medicamento chamado dostarlimab (um anticorpo monoclonal anti-PD1) poderia representar potencial terapêutico clínico significativo quando utilizado como agente único (somente este medicamento).
O dostarlimab foi eficaz no tratamento de tumores colorretais
Para isso, o grupo de pesquisa realizou um ensaio clínico de fase dois onde o medicamento foi administrado a cada três semanas por seis meses em 12 pacientes com adenocarcinoma retal deficiente em reparo de incompatibilidade de estágio II e III. O tratamento em questão deveria ser seguido por quimioterapia padrão e cirurgia. No entanto, se a resposta clínica fosse efetiva o suficiente com o uso do dostarlimab, os pacientes poderiam prosseguir sem a necessidade de outras terapias adicionais.
Os resultados encontrados foram impressionantes, com todos os pacientes obtendo uma boa resposta clínica, inclusive, sem evidências do tumor em exames de imagem, como a ressonância magnética e tomografia, ou por exames de toque retal e biópsia.
Durante um intervalo compreendido do 6º ao 25º mês após o tratamento, nenhum paciente foi submetido a tratamentos adicionais (quimioterapia, radioterapia ou cirurgia). Além disso, não houve caso de recorrência do tumor e nenhum efeito adverso grave foi registrado.
No Brasil, o medicamento dostarlimab tem sua utilização aprovada pela ANVISA para o tratamento do câncer de endométrio. No entanto, sua utilização para outros tipos de tumores ainda não havia sido avaliada. Estes são achados realmente animadores devido à alta taxa de sucesso da terapia e trazem esperança para pacientes diagnosticados com câncer colorretal. No entanto, mais estudos são necessários para avaliar em longo prazo a duração das respostas nos pacientes.
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Referência:
Cercek, A., Lumish, M., Sinopoli, J., Weiss, J., Shia, J., Lamendola-Essel, M., ... & Diaz Jr, L. A. (2022). PD-1 Blockade in Mismatch Repair–Deficient, Locally Advanced Rectal Cancer. New England Journal of Medicine.
Dekker, E., Tanis, P. J., Vleugels, J. L., Kasi, P. M., & Wallace, M. B. (2019). Colorectal Cancer. Lancet.
INCA. (2022). Câncer de intestine. Diponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-intestino