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Diretrizes de nutrição e atividade física para sobreviventes de câncer

O câncer é, sem dúvidas, um grande problema de saúde pública e já figura entre as principais causas de morte no mundo todo. Segundo estimativas do Instituto Nacional do câncer (INCA), mais de 600 mil novos casos de câncer deverão ser registrados em 2022 no Brasil.

Apesar da alta incidência, é notável que a mortalidade decorrente da doença venha caindo pouco a pouco. Nos últimos 30 anos, observou-se um declínio na taxa geral de mortalidade por câncer de aproximadamente 32% nos Estados Unidos. Com isso, a sobrevida global para todos os cânceres combinados aumentou, chegando a 68%.

Mas o que explicam esses resultados?

Diversos fatores podem influenciar estes resultados estatísticos. O primeiro (e um dos principais) é o aumento da expectativa de vida da população, que aumentou consideravelmente devido aos avanços na medicina, especialmente quanto ao desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.

A utilização de terapias direcionadas e personalizadas para cada caso também contribuíram para o aumento nas taxas de sobrevivência. Nesse sentido, melhorias no diagnóstico e detecção precoce do câncer, além da identificação de novos biomarcadores, permitiram uma triagem e direcionamento mais assertivo para a tomada de decisão médica quanto à escolha do tratamento mais eficaz.

Não podemos deixar de incluir nesta equação, mudanças comportamentais gradativas que influenciam muito o desenvolvimento de diversos tipos de câncer. A aderência a um estilo de vida saudável, com a inclusão de uma boa alimentação e a prática de exercícios físicos é um forte aliado para prevenir a doença. A diminuição de fatores de risco modificáveis, como a adiposidade, ingestão de álcool e o tabagismo também propiciaram uma menor recorrência e maior sobrevida global após o diagnóstico de câncer.

Novas diretrizes de nutrição e atividade física para sobreviventes de câncer

Com um maior número de sobreviventes, veio à tona uma nova preocupação: como evitar a recidiva do câncer nesses pacientes?

Com o intuito de ajudar nesse processo pós-câncer, a American Cancer Society (ACS) publicou no mês de março deste ano, nova diretriz para ajudar a orientar profissionais da área da saúde que cuidam de sobreviventes do câncer, assim como seus familiares.

Neste documento, a ACS fornece novas recomendações específicas do câncer baseadas em evidências científicas para parâmetros antropométricos, atividade física e dieta, com o objetivo reduzir o risco de recorrência, mortalidade e no aumento da sobrevida livre de doença em sobreviventes de câncer.

Recomendações nutricionais

Antes de tudo, é importante destacar que todas as recomendações descritas abaixo são baseadas em evidências científicas. É indispensável que o paciente passe por avaliação nutricional profissional logo após o diagnóstico. Assim, é possível prevenir ou solucionar deficiências nutricionais, preservar a massa muscular e controlar os efeitos colaterais dos tratamentos.

Além disso, deve-se seguir um padrão de alimentação saudável que atenda às necessidades nutricionais e seja consistente com as recomendações para prevenir doenças crônicas. Caso a ingestão oral não supra a quantidade necessária de nutrientes (por ex. >1 g de proteína por quilograma de peso corporal por dia), deverá ser implementada utilização de suplementos nutricionais.

Consumir alimentos em quantidades ajustadas ao perfil metabólico e corporal é essencial para a manutenção do peso corporal dentro de parâmetros saudáveis. A inclusão de vegetais, leguminosas, frutas e grãos integrais também são indicados. Por outro lado, é necessário evitar o consumo de alimentos processados, carnes vermelhas em excesso, bebidas açucaradas e a ingestão de álcool.

Neste novo estudo, a ACS constatou mais uma vez que a obesidade é positivamente correlacionada com uma variada gama de cânceres. Evitar e controlar a obesidade são estratégias fundamentais para prevenir novo desenvolvimento de câncer, assim como de outras comorbidades.

É importante destacar que as evidências científicas atuais não suportam a utilização do IMC (índice de massa corporal) como indicador de adiposidade e maior risco a determinados tipos de câncer. O IMC é o parâmetro antropométrico mais utilizado em estudos clínicos e epidemiológicos, no entanto, não diferencia entre a massa magra e o tecido adiposo, além de não fornecer a quantidade e localização da adiposidade. 

Recomendações para atividades físicas

Não são novidades os inúmeros benefícios da atividade física para o estado geral de saúde do indivíduo. E em pacientes sobreviventes de câncer não é diferente. A orientação quanto à prática de atividade física é fundamental nesse processo e deve ser iniciada o mais breve o possível. No entanto, é preciso levar em conta o tipo de câncer, as condições gerais de saúde do paciente, o tratamento e os efeitos colaterais.

Muitos sobreviventes de câncer são capazes de se exercitar antes, durante e após os tratamentos, embora algumas restrições de curto prazo possam ser aplicadas após uma grande cirurgia, por exemplo. Além disso, a atividade física tem o potencial de melhorar condições psicológicas importantes, como a ansiedade e sintomas depressivos, melhorando a qualidade de vida como um todo.

As recomendações atuais de atividade física para a melhora do estado de saúde são 150-300 minutos por semana de intensidade moderada, ou 75-150 minutos por semana de atividade física de intensidade vigorosa e atividades de fortalecimento muscular. Esses mesmos parâmetros podem ser seguidos em pacientes sobreviventes de câncer, com o devido acompanhamento profissional. Crianças e adolescentes também devem se envolver em pelo menos 1 hora de atividade física por dia.

O profissional da saúde é o seu maior aliado!

Apesar de serem recomendações simples e gerais, muitos pacientes não as seguem ou não são informados a respeito. A grande maioria dos sobreviventes de câncer prefere receber informações sobre dieta, controle de peso e atividade física de sua equipe de saúde.

Nesse sentido, os ambientes clínicos podem impactar muito no comportamento de um paciente, portanto, esses fatores são críticos na aplicação dessas recomendações. Por isso, é importantíssima a coordenação dos profissionais da área de saúde para prover as informações necessárias.

Cuidadores e familiares também devem ter acesso a essas informações. No entanto, é necessário salientar que qualquer prática a ser adotada que impacte na saúde do paciente deve sempre ser respaldada pelo embasamento médico e de profissionais das áreas correlatas. Jamais promova qualquer tipo de orientação nutricional ou de atividade física sem a orientação do profissional da saúde.

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Referência:

INCA. Estimativa para o Câncer. 2020. Disponível em: https://www.inca.gov.br/estimativa/introducao.

Rock, C. L., Thomson, C. A., Sullivan, K. R., Howe, C. L., Kushi, L. H., Caan, B. J., ... & McCullough, M. L. (2022). American Cancer Society nutrition and physical activity guideline for cancer survivors. CA: A Cancer Journal for Clinicians.

Siegel RL, Miller KD, Fuchs HE, Jemal A. (2022). Cancer statistics. Cancer J Clin.

 

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