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Pesquisa pode ajudar na triagem para o câncer de fígado

A incidência global de doenças hepáticas tem crescido nos últimos anos, principalmente quanto a casos de doença hepática gordurosa não alcoólica.

Essa é uma doença caracterizada pelo excesso de gordura em células hepáticas e pode possuir relação com outras condições como a obesidade, levando à fibrose hepática progressiva, inflamação crônica e cirrose.

Estudos científicos indicam que pacientes que apresentam doença hepática gordurosa não alcoólica possuem um maior risco para o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, uma das causas de mortalidade que têm apresentado crescimento em diversos países. Dessa forma, realizar o diagnóstico precoce é uma excelente estratégia para obter sucesso terapêutico, assim como realizar triagens em pacientes de risco que apresentam quadro de inflamação hepática ou cirrose.

No entanto, dados estimam que menos de 25% dos pacientes que possuem condições agravantes para o surgimento do câncer, passam efetivamente por triagens regulares, gerando diagnósticos tardios e piora do prognóstico.

Novo estudo investigou potencial exame de sangue para prever risco de câncer de fígado

Em busca de aperfeiçoar metodologias de diagnóstico e rastreio para o câncer hepático, um novo estudo publicado este ano na prestigiada revista Science Translational Medicine desenvolveu um potencial exame de sangue para triagens em pacientes com risco aumento para o câncer hepatocelular.
O estudo envolveu a análise de amostras de sangue de 409 pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica, onde os cientistas buscaram genes que poderiam estar alterados em associação com o câncer.


Os dados revelaram um conjunto de genes que tiveram suas expressões alteradas, seja para níveis mais elevados ou para uma menor expressão. Estes pacientes foram estratificados em níveis de maior ou menor risco para o câncer, baseando-se na quantidade expressa de cada gene. A partir disso, estes pacientes foram monitorados durante 15 anos após a coleta das amostras de sangue quanto à saúde hepática.

O perfil de expressão gênica foi positivamente correlacionado com maior chance para o câncer hepático

Os cientistas descobriram que em torno de 23% dos pacientes do grupo de alto risco, foram diagnosticados com carcinoma hepatocelular, enquanto que nenhum paciente do grupo de baixo risco foi diagnosticado. Para facilitar as análises, os pesquisadores converteram o painel genético encontrado para a análise de proteínas que poderiam ser mensuradas de maneira mais simplificada em amostras de sangue. Esse processo foi realizado por meio de análises computacionais que transformaram o transcriptoma do tecido tumoral em um painel de secretoma de quatro proteínas usando um pipeline computacional desenvolvido pelo próprio grupo de pesquisa (TexSEC).


As proteínas selecionadas foram: linfotactina e progranulina, classificados como alto risco; angiopoietina 2 e receptor do fator de crescimento de hepatócitos, classificadas como baixo risco. Estas proteínas (assim como grande parcela dos genes analisados) são moléculas relacionadas com o sistema imune e reações inflamatórias, o que demonstra a grande relevância da inflamação para o desenvolvimento do câncer hepatocelular.


Novamente, os pacientes foram divididos em grupos de alto e baixo risco de acordo com as proteínas selecionadas. Os resultados foram ainda mais surpreendentes, com 37,6% dos pacientes no grupo de alto risco sendo diagnosticados com câncer no período de acompanhamento. Por outro lado, nenhum paciente no grupo de baixo risco de teve confirmação da doença.

O uso de terapias para diminuir a inflamação fígado modificou os níveis dos marcadores

Algumas intervenções médicas são conhecidas por diminuir o nível de inflamação no fígado e reduzir as chances de desenvolvimento do câncer hepático. É o caso de cirurgias bariátricas, medicamentos utilizados para o combate do colesterol alto e imunoterapia.


O grupo de pesquisa também avaliou os níveis gênicos e das proteínas em pacientes submetidos a tais procedimentos. A realização de cirurgia bariátrica ou utilização de medicamentos a base de estatinas foi capaz de diminuir os riscos de desenvolvimento do câncer, sendo observada uma prevalência menor dos marcadores utilizados no estudo.


Assim, os pesquisadores acreditam que essa nova abordagem possa beneficiar os exames de triagem, assim como para verificar a eficiência de terapias que ajudem a diminuir os riscos para o câncer hepatocelular.
Os próximos passos da pesquisa incluem a ampliação do número de participantes estudados e em regiões diferentes do mundo, além de desenvolver a mesma metodologia para aplicações em outras doenças hepáticas importantes.


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Referências:

Fujiwara, N., Kubota, N., Crouchet, E., Koneru, B., Marquez, C. A., Jajoriya, A. K., ... & Hoshida, Y. (2022). Molecular signatures of long-term hepatocellular carcinoma risk in nonalcoholic fatty liver disease. Science Translational Medicine, 14(650), eabo4474.

Simon, T. G., Roelstraete, B., Sharma, R., Khalili, H., Hagström, H., & Ludvigsson, J. F. (2021). Cancer risk in patients with biopsy‐confirmed nonalcoholic fatty liver disease: a population‐based cohort study. Hepatology, 74(5), 2410-2423.

 

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